sexta-feira, 3 de agosto de 2012

CICLO DO NATAL



                                              



O CICLO DE NATAL

No horizonte, a Vinda final do Filho do Homem. No centro das atenções, o nascimento de Jesus, em Belém de Judá. A brilhar em cada celebração, a vinda mística do Cristo da nossa fé, que nos garantiu que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20). No dia a dia, a desafiar a vigilância da nossa fé, a vinda velada d’Aquele que cruza, a todo momento, nosso caminho, em meio a tudo quanto acontece, em cada pessoa, especialmente, no necessitado, no empobrecido, no excluído, “pois eu estava com fome, e me destes de comer” (Mt 25,35). O ciclo anual do NATAL começa pelo Tempo do advento, tempo de preparação dos caminhos do Reino; culmina na noite de natal e se desdobra por uma oitava de alegria pela vinda histórica do Messias e sua repercussão pelos séculos afora, através das celebrações-memoriais; e termina nas Festas da epifania e do batismo do Senhor, momentos privilegiados de sua manifestação. É, com certeza, um tempo forte de cultivo e fortalecimento da fé e da vida cristã. Do começo ao final, uma bem-aventurança de Jesus nos acompanha: felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! (Mt 5,6). Faz bem começar assim um ANO NOVO.

TEMPO DO ADVENTO

Toda celebração cristã tem uma dimensão de espera do Reino. A cada dia suplicamos na oração do Senhor: “Venha o teu reino!” E no coração da prece eucarística aclamamos: “Vem, Senhor Jesus”. Entretanto, o tempo do advento nos é dado a cada ano, como SACRAMENTO DA ESPERA. Os textos bíblicos e litúrgicos do ciclo do natal estão impregnados de imagens que falam das Promessas de Deus e da ansiosa expectativa do povo; da manifestação da sua VINDA no Verbo que se fez carne e da humilde adoração e reverente cooperação das Testemunhas que reconheceram os seus sinais.


E nós, neste tempo de agora, auxiliados pela reserva simbólica ofertada pela liturgia de cada dia, comungamos desta ansiosa esperança, unindo-nos aos anseios da própria criação, também ela e mais do que nunca, em dores de parto à espera de redenção (Rm 8). Somos guiados/as pela íntima certeza de que do tronco cortado sairá um broto; frágil, mas coroado pelo Espírito capaz de recriar o mundo a partir do seu próprio fracasso em busca da harmonia primordial (Is 11,1-10). É esta certeza-esperança que nos move a cantar esperando o natal: “Do tronco da vida, mesmo ferida, nasce uma flor rindo da dor” (Adolfo Temme). E assim preparamos com íntimo desejo ‘a festa das nossas núpcias’ (Leão Magno) abraçando nossas fragilidades já assumidas pelo Verbo manifestado em nossa carne e ainda por se manifestar plenamente.

Somos sujeitos de desejo, inacabados, sempre “em devir”, nós e a realidade social e cósmica da qual fazemos parte... A nossa espera será proporcional ao nosso DESEJO. Santo Agostinho já dizia: “o teu desejo é a tua oração”; Gandhi o confirma: “tornamo-nos aquilo que ansiamos, dai a necessidade de oração" ; e Teilhard Chardin: “O Senhor Jesus virá na medida em que saibamos esperá-lo ardentemente; há de ser um acúmulo de desejos que fará apressar o seu retorno". A oração do primeiro domingo pede “o ardente desejo do reino para acorrer com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem”. E pede que sejamos vigilantes:

a) A nós mesmos/as, para não confundir a sede mais profunda do coração (sede de amar e de ser amado/a) com o desejo de posse (de pessoas e de coisas); para dar nome aos nosso desejos desorientados...

b) Aos sinais da vinda do nos acontecimentos

c) No cuidado da ‘casa’, apressando “com as boas obras” (amor concreto e gratuito) a chegada do reino; prolongando na oração pessoal a escuta da Palavra (oração do coração), abrindo-nos à mediação do Verbo - “é ele que ama em nós” (Jean Yves Leloup).


Preparamos o natal celebrando o ADVENTO, o mistério da VINDA do nosso Salvador Jesus Cristo que “veio a primeira vez revestido de nossa fragilidade”, “virá no fim revestido de glória” (cf. prefácio I) e SEMPRE VEM, no tempo intermediário do nosso PRESENTE (homilia de São Bernardo, LH, I, p. 137 ). ELE VEM independente da nossa espera, mas justamente porque ele Vem, nos abrimos à sua presença no meio de nós: “agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização do seu Reino”. (Prefácio IA).

Atentos/as às palavras da liturgia e aos acontecimentos do cotidiano, nos colocamos na condição de comunidade-Esposa, vigilante à espera do Messias. Ele virá tão certo como a aurora. Então cantamos: “das alturas orvalhem os céus, e as nuvens que chovam justiça, que a terra se abra ao amor, e germine o Deus salvador”. O Verbo que nasceu de Maria, germinará da terra QUE SOMOS NÓS, como nos ensina a Eco-teologia a partir da nova cosmologia (somos parte indissociável do cosmos).

O Verbo é o fruto da mútua cooperação, da admirável troca, entre o céu e a terra, entre o Espírito e a matéria. Por isso nos unimos a toda a humanidade e a toda a criação, em oração suplicante: VEM!! É o grito do próprio ESPÍRITO que se une à Esposa para dizer:: “Maranatá, VEM, Senhor Jesus!” (1Cor 16,22 e Ap 22,20). Tendo esta tela de fundo, entremos com nossa atenção vigilante, na “alegre e piedosa espera” deste sagrado tempo da nossa esperança

FESTAS E TEMPO DO NATAL

O Natal não é apenas a celebração do aniversário de Jesus, é memória da nossa redenção. São Leão Magno um pai do século V, afirma que, com o nascimento de Jesus, “brilhou para nós o dia da nossa redenção”. Em Jesus Deus se aproximou do mundo, desposou a nossa humanidade, por isso, o mesmo Leão Magno refere-se às festas do natal como ao dia das nossas núpcias, em que se realizou o admirável intercâmbio entre o céu e a terra. Destacam-se o dia do natal com sua oitava, a epifania e o batismo do Senhor. No dia do natal, celebramos a humilde presença de Deus na terra, adoramos o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. É a festa da Divina solidariedade. Na epifania, conhecida como festa dos reis magos, celebramos a sua manifestação a todos os povos do mundo. O Batismo de Jesus no Jordão é a sua manifestação, no início da sua missão. Ele, o Servo da simpatia do Pai, destinado a ser luz das nações. É importante resgatar a dimensão pascal do natal. O presépio, as encenações, os gestos e os cânticos do Natal e da epifania devem nos ajudar a celebrar a “passagem” solidária de Deus na pobreza da gruta, na manifestação Jesus aos povos, em Belém, e na manifestação a seu povo, no Jordão. Os ofícios de vigília, com o simbolismo da luz, retomam, de modo especial, o clarão da vigília pascal: lembram o nascimento e a manifestação do Senhor Jesus qual luz a iluminar os que andavam nas trevas. O Rito das aspersão, especialmente na festa do batismo, expressa o nosso mergulho na divindade do Cristo, do mesmo modo como ele mergulhou em nossa humanidade.

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